terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Contextos

Como se pode crescer pra dentro?
Estagnar o tempo com as mãos,
Segurar o óbvio na retina...

Preferir o nada contido
O vazio dos pretéritos imperfeitos
Os ventos trancados nos potes
Caras de paisagem
Anestesia para a paixão...

Não quero escolher minhas palavras
Quero poder sentir a grama, o mar aos pés
Subir na janela pra sentir o movimento dos cabelos
A grata sobremesa,
O espetáculo do rabo da baleia na onda...

Não tranco meus monstros
Deixo-os brincarem no jardim.
Quem há de crer que não são crianças?
Quem há de duvidar que dariam medo se são o que são?

Preferindo o caminho á pedra
Esse é o meu caminho.
Onde as flores crescem,
Onde até Claude Monet trocaria os óculos!
Onde meu coração se vê
e reflete
Tudo o que você quer viver.

domingo, 23 de novembro de 2008

Simples

Em sã conciência não seria o fato
Talvez em conciência santa.
Ludibriar o ar que corrompe
Queima a pele

E toda vez que você ouvir Aerosmith
E em toda revista que abrir
E em todas as cores que olhar
Existe e por si só
Já existe.

Sem explicação
Resposta
Tempo ou divagações
Simplesmente somos
Sentindo oque o universo conspira
Não existe mais espaços, lacunas, parênteses...

Por que existe todo um sistema
Na inteligência divina
Que faz um bobo sorrir de manhã
Com a graça de uma criança
E feliz como uma cigarra.

Dentro

Toda vez que tu abres a porta
Toda vez que teu sorriso se estende no mar azul
E teus braços se fazem enormes abraços
E a vida se torna calorosa e acolhedora
Toda vez que acordo em teus olhos
E o céu entra em minha alma
Num sono profundo
Num sonho completo
Intocável, perfeito
Como se o sol não fosse presença
Nem as horas, os dias, os meses
E se a vida passasse
Passaria tranqüila
Entre milhares de vidas
Uma só, em comum
Uma vez
Feliz

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A manhã invade a minha janela
Espalha o sol na minha cama
Consagra em luz e sombras o meu meio sorriso
De quem não dormiu, mas aproveitou ludicamente o curto sono
E o corpo ao lado, respondendo em enércia
Lúdico, branco e quente...
Foi mais que um sonho bom...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ao longo do caminho

ao longo do caminho
aquela luz me acompanhava...

era uma sensação agradável
de leveza e alegria

eram flores, pétalas de luz
o coração certo

a confiança na espera
faixas de chegada em cada rua

cores nas gotas de chuva
tudo tinha gosto de coca-cola

ao longo do caminho
agora vejo casas envelhecidas

passáros de tons cinza
folhas e galhos secos nos acostamentos

sol esquenta de mais, chuva esfria de mais
janelas abertas para salas escuras

e não encontro mais certeza nas respostas
nem o caminho é tão agradável.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Mergulho

Alguns segundos
Se o tempo parasse...
Parou.
Dentro dos teus olhos.

E por mais que eu me esforce,
Por mais eu finja
Que não estou entretida...
Como uma criança boquiaberta
E desarmada
Me deixo afundar nos teus braços, tão calmos.

Confunde os sentidos
Dá pra se perder...

Perder o juízo
O sentido
A direção
O rumo do mundo
Virar poesia...

Se entregar ao sonho
De olhos abertos
Cegos de incrédulos
Contentes e satisfeitos
Dentro dos teus.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mais que perdida

Entendo um sorriso em meio ao caus
Iluminando, focando,
Dentro de um mar de “pessoas- cinza”

Sem pensar
Chamas e gelo
Em pleno ar
Não quer parar,
Deixa existir
Correr, rolar...

Pra decolar desse abraço
Precisei todos os santos
E de algumas divindades
De me lembrar a identidade
De tamanha minha paz


no mais...
doces esmeraldas
e ondas negras entre meus dedos
vão riscar pela estrada
Feriados, fins de semana inteiros

perdida,
te encontrei
mas até pra me perder eu me presto
tamanha sorte
jogo honesto
te ganhei.

domingo, 6 de julho de 2008

impermeável

Eu busco uma estrela
Se ela brilha e não responde
Quem sabe, sua não-resposta
Seja conseqüência da sua própria natureza fria.

Sem mais perguntas.
Falar, às vezes, causa todos os agravantes...
Melhor seguir o ritmo
Esquecer a letra que não agrada
E todos os verbos no infinitivo
Onde as perguntas não são bem vindas
As respostas estão implícitas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Estações

Estou no coração de vários,
Na lembrança de muitos,
Na cabeça de alguns...
Sinto como uma brisa,
Espelhando o seu pensamento em mim.
Um reflexo de sentimentos
Meus sinais vão mais além...
Movimento-me com a lua em suas fazes
Nos corações que tomo sem permissão.
Não fico, não paro, sou lívida.
Faço-me ser recordada,
Ser única
E ausente.

Se reencontrar essa luz em outro olhar
Perco-me entre as sombras passadas
As torno meu presente em outros olhos, sim!

Teus braços, distantes...
Abraços meus são estações vazias
Recebendo quem chega e não fica
Encobrindo lacunas com mensagens falsas
Coloridas pelos céus que contam o tempo
Para esquecer o que se perdeu no caminho.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O imenso sentido de um pequeno poema

Acho que teu toque ultrapassou minha pele.

E entre teus dedos estenderam-se os sonhos.

Na tua boca, a gravura de um desejo,

Hipnotizou o mar inteiro.

Legato

Perdi a conta de quantas vezes a vida me trouxe de volta sentimentos- bumerangues.
Pérolas que as ondas esquecem entre meus pés.
Na motivação de novas fases e interesses, os mesmos sonhos.
E segundos após anos e segundos após segundos,
A mesma boca está ali, com outro beijo e outras palavras...
É como ver mensagens subliminares num quadro antigo.
Minha boca também se cansou das mesmas palavras,
Agora, não só o coração fala por ela.
É um misto de experiência e inocência
Que se pede ao caráter e também a Deus que não se perca por completo.
São reveses da própria alma no mesmo degrau, com sapatos diferentes.
E se como não bastasse o jogo ter novas regras, também inclui lembrar-se das velhas jogadas que deram errado.
Ciclos de poeira encobrem páginas em branco.
Um teste de fé, quem sabe.
Ou apenas fugas, que de reconfortante mesmo, só existe o passado.
Independentemente de toda racionalidade de um momento,
Lembranças são etéreas, como sonhos.
Prefiro então entrar no teu abraço de olhos abertos,
Que esta noite eu não vou sonhar pesadelos,
E ainda vou acordar sonhando...

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mãos

Sou um pouco do que sinto,
do que penso,
do que quero,
E muito do mundo,
da música,
das formas,
mas sou completamente incompleta.

Me falta os anos que ainda não vivi intensamente,
E todas aquelas coisas que ainda não inventei.
E das que eu inventei, falta que aquela pessoa que passou pela minha estrada e está no meu coração,
caminhar do meu lado.
Me faltam palavras pra contar o futuro
mas me sobram forças incomensuráveis para construí-lo

Nãs minhas mãos estão todas as linhas
Que seguirão recebendo a calegrafia da vida
O calejamento do presente

Na espera de cruzá-las
Com aquelas linhas onde costurei minha felicidade
Eu queria tecer a minha istória,

Distantes agora,
Dentro de mim para sempre.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ainda...

Se explicações bastassem
Nenhuma palavra me lembraria teu nome
Entre pobres e simples mortais
Ainda estremeço os joelhos ao ouvi-lo...

E se o teu rosto
Na ponta dos meus dedos
Não estivesse em hologramas
Meus sonhos não seriam tão inquietos...

Proponho-me, empilhando as saudades
Dentro de um pseudo-tempo em que tento existir
Perco-me em lembranças tão vagas quanto a tua presença
Que de ti não me perco, luz nos meus passos!

Se essa luz rebuscada em sereno e vapor
Abraçasse-me entre as trevas
Como os teus olhos, tão negros
Tomaram minha visão...

É, saudade...
Palavra que parece batidas na porta que ninguém abre
É a sensação de achar o que não estava perdido, só não possui.
E a tua voz grave e rouca ecoando no vácuo da tua ausência.

domingo, 13 de abril de 2008

Visão egoísta

Acho que meu compilador é romântico
Ele insiste em transformar a realidade em realidade
Pelo menos no meu mundo.
Faço - à minha visão
Refletindo o que meus olhos levaram pra dentro.
O que mais certo do que ter visão própria?
Cada qual com seus instintos e utopias, mas todos nós na mesma direção...
Individualidade não é crime, apesar de englobar desejos egoístas, é também um jeito de auto-ajuda.
Alguém tem que ter a razão, mesmo que seja a pedra que não reclama por ser chutada, mas te dá à resposta no dedão dolorido...
Mas haja poesia pra converter o mundo!
Que de braços vazios eu não fico,
Nem que seja pra carregar meu coração que esta sempre cansado,
Mas pelo menos quero ter um.

Uma pequena vontade de escrever

Suprime o bem e o mal
É só uma pequena vontade de escrever.
Sobre o que, não sei
Não é pra contar nada a ninguém...
Nem pra contar vantagem é.
Quem sabe seja pra se lamuriar um pouco da vida,
Pra descrever desencontros e tábuas de sustentação sem pregos
Ou mais além, ditar os prós e contras sobre terras sem leis.
Botar legendas nos balõezinhos enquanto o corpo cai entre a resistência do ar e o pânico do solo
E às vezes só pra descrever a chuva na janela, num dia cinza em que só o cigarro aceso ao lado do café, dividiriam uma conversa diplomática contigo, fazendo fumaça, sem te perguntar o por que...

sábado, 12 de abril de 2008

Na prioridade, a solidão.

Até quando uma mulher pode agüentar ao homem e desistir de ser sozinha?
Até onde vai o espírito selvagem embutido na testosterona entre o bando?Tudo isso na curta e pobre vida que levamos como formigas, seja no topo do formigueiro, seja o pobre operário irrelutante.
Não há significado na vida á não ser a cópula mágica mantendo o ciclo da existência.
Se é inegável o fato de tantas partículas formarem um corpo, formamos dois então, nem precisa ser três.
Me dê o teu momento sereno, sentindo seu sono entre rodeios e o nascer do sol.
Aquela meia-luz que te chama por baixo da porta.
Ela é um sinal de que a luz te atrai pra vida.
Acorda no teu sonho "noir", há alguém à mesa.
Não te debulha em sons distorcidos, todos têm ouvidos.
Ouvidos afiados, mas complacentes também.
Não pegue meu pulso e sim segure as minhas mãos,
E será dessa forma que verás que pela frente haverá mais acolhimento, que nesse cimento duro à frente e o vendaval acima.
Veja o ser humano ao seu lado em caminho evolutivo, as vezes sintonizado, sob o feitiço dos deuses e suas intrigas.
O sentido pleno é a existência apartir da comunhão de energias, somas.
Multiplicando e formando novas formas e explodindo em um ser.

domingo, 30 de março de 2008

Fim-de-tarde de domingo

São dias como estes, que me fazem pensar com gosto.
Com o gosto dos teus beijos ainda sobre a pele,
Todas as tuas cores, sons e formas.
Como em um jogo sem perdedores
E um punhado de momentos que se conta na vida.

Em dias como este o sol tem outra luz
Para não competir com o teu sorriso
E ele se esconde atrás da cortina
Junto a todo o caus lá fora

Um turbilhão de emoções, um toque
Olhos que pedem até a alma
Movimentos em dejavú

Mar revolto
Correnteza em frenesi
Dividindo entre o tato e sentimento
Revesando sensações
Sem barreiras para os limites
Fácil como sentir o sol bater no rosto
No fim–de-tarde de domingo.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pensando, enquanto a poeira dança num filete de luz, saido do vão da janela ...

Um pouco mais da minha alma se expandiu.
De alguma forma ela procura a si mesma em cada pedaço que lhe oferecem.
Milhares de pedaços meus também estão por aí,
Têm existência própria sozinhos...
E eu?
Eu vou ficando com o que sobra.
Brilho de estrelas extintas, asas de borboleta sem vida.
Todas cores iluminadas mas no retrato preto e branco não refletem...
Então busco no som, as cores
E espero o reflexo, o eco
Enquanto espero, quero que volte.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A vida

O que mais belo na vida que andar de pés descalços na chuva? Do que manter as mãos inquietas enquanto se aproxima o ser amado? A leveza do vôo de uma ave branca pairando sobre o mar ao alvorecer? Quando esquecemo-nos de entregar os olhos da imaginação ás mãos de Deus nos dias simples, nas madrugadas complexas, somos apenas carne e ossos sonhando com uma alma. Não há uma motivação sem o credo, sem a esperança. Que se rasgue o peito de amores; sejam eles sutis, fervorosos, calados, impacientes. Que se faça o sol no raiar de um novo dia a fonte inspiradora de toda graça e música aos ouvidos dos anjos que perpetuam em nossa morada. Nos motivos do mundo não restam paz ou conforto, então façamos o seguinte: Pedimos e concretizamos sobre o suor de nossos rostos cansados e sonhamos e deleitamo-nos quando pudermos fechamos nossos olhos sob nossos travesseiros. Sejamos mais brandos com nossos próprios desafios enquanto estamos no correr da luta. A paz é um objeto em uma prateleira de ouro. Podemos admirá-la, mas para tocá-la temos que transpassar o vidro frio em nossos pensamentos, tocando-a em nossa imaginação, construindo momentos atemporais no fio que nos une, céu e terra,corpo e alma. Da indagação do ser supremo veio a luz ao homem e se fez a criação deste sonho estranho e enigmático que nos rodeia. Como pode ao ser perguntar por que existe se simplesmente existe. A beleza do simples é a mais admirável poesia, não uma perturbação. Só o homem com seus olhos incrédulos e sua busca profunda pode se atrever a deslumbrá-la em fantasia. Então que seja eterna, forte, vibrante, intensa. Nos seus mais distantes caminhos existem sempre as explicações de um mapa divino e individual. Que não se canse a busca, nem os olhos á beleza, nem o corpo á batalha. Que não se esconda a tristeza, nem o deleite da felicidade ao ser irmão e ao olhar divino. Deus nos propôs a divisão de sentimentos. A vida nada mais é que uma diversão dentre a eternidade, um sonho bom que Deus nos propôs e que, acordados ou não, ele nos unge diariamente com seu equilíbrio e sensatez, mesmo nos momentos mais inconcebíveis. Viemos á este mundo para ver o inesperado, o inacreditável, a realização do inconcebível. Aproveite a estada, e tenha um bom dia.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O primeiro vendaval

Num gesto simples de inocência, me sinto sendo amputada. As noites de paz são infindáveis até o primeiro vendaval. Ele te pega desprevenido, sem armas, sem a conduta da luta, sem o coração endurecido. Não existirão palavras, nem gestos, apenas um rosto pálido e catatônico enquanto o mundo se estilhaça. E a força se vai enquanto as mãos tremulas juntam o que resta pela frente, seja o que for, é no que nos agarramos. Queria ter mais força, talvez para correr, talvez para lutar, mas com certeza para parar. Sinto saudade de certos sentimentos sem nome, agora que se foram, parecem maiores do que realmente eram, quem sabe, eu não era maior que eles ou eles estavam tão mais longe... Agora, meus braços não os alcançam, minhas pernas não me levam mais até eles. Apenas a lembrança, fria e torta, visita-me durante o primeiro vendaval.
Há dias em que há alguma coisa sob as paredes... Por que não vejo as mensagens tão claras? Se não fosse tão tarde, se não fosse tão cedo... Assim prossegue o caminho. Tudo na mais perfeita ordem enquanto algo urra aqui dentro de mim, desesperadamente, me desconcertando, sem fazer ruídos. Uma explosão interna como uma infecção se ergue aos poucos. Fere, machuca mesmo. Mantendo todo o exterior inerte, ele dorme enquanto os gritos não vêm á tona. O silêncio pesa. Desconstrói. Falta uma janela... Penduro um quadro. Uma hora, derrubo a parede aos berros e o quadro, dane- se...

domingo, 29 de julho de 2007

...

“... Minhas mãos tentam falar. Transportar meu coração ao entendimento. Tão confusa de momento é a razão, tão profundo e tão intenso o sentimento. Se rebusca e obtusa, faz incerta a palavra. Tenho pressa, tenho a cura. A loucura já confessa, saberá só quem me abra. Eu busco em sons compartilhar, quero sentir, quero tocar, quero contar minha emoção à imensidão sem me bastar. E se me entrego em letra e som, em escrever, tocar, cantar, sentir em precisão até o ar a me tocar... Que a vida dê o tom para que eu o possa expressar...”

Em um dia frio...

“... Nenhum tempo, nenhum lugar. Vivemos em universos paralelos. Nenhum vento, nenhum olhar. Mantemos presos em versos nossos elos. Palavras que formaram poesias. Poemas construindo utopias... Os sonhos se esfacelam com os anos, mas um dia é eternidade para insanos. Conservaste aquela brisa de verão? A lembrança do calor da minha mão? Nenhum só dia esqueci o teu olhar. Nenhum só dia esqueci a tua imensidão. Busco em todos meus momentos um pedaço da emoção e daquele sentimento, te abraçar em frente ao mar...”

segunda-feira, 23 de julho de 2007

"... Teu cheiro jaz no meu corpo agora... Teu corpo marcou minha pele. Na tua pele fiquei sem demora. Paixão que me mate e me vele! Me amaste com loucura santa. Resaste meu terço, meus quartos... No abraço, em sonhos, já fartos, me procura e me levanta! Em um só compasso extasiamos, incontáveis vezes num só dia. Encontramos toda a alegria. Na fantasia que á nos mesmos inventamos ..."

Vazia

Um vazio me aperta o peito. Sedento de esperança. Me tira a criança. Me faz sentir sem jeito. Silêncio não é harmonia. A falta de sonhos me cansa. Ser livre sem ter confiança. Infeliz e mostrar alegria. Me chama o futuro insensato. Pão , instrução, companhia... Mesa, classe, cama. Sem paixão me falha a poesia. E levo minha barca em calmaria. A tristeza , na lembrança que um dia, se fez explosão em minha alma, que agora parece vazia.
Mato a saudade de abraços... Noutros braços me escondo. Rostos, nomes eu faço. Me permito me opondo. Tua pele virou brisa. Teu sorriso vaga lembrança. Da tua presença não tenho esperança. Deixei meu coração na tua divisa. Tive tempos de guerra e paz. Medo, desespero e agonia. Na tua falta fiz poesia. Na tua presença fui audáz. Das promessas vazias que teus olhos contavam me despi! Com a cabeça nos ombros da solidão muito eu dormi... Me deixo para não deixar. Permito, para não permitir. Sozinha consigo me achar. Sem laços te faço existir...

Nenhuma brisa...

"Nenhuma brisa... apenas um imenso frio. O vento corta meus sonhos em pedaços congelados, varridos pela rua, se perdendo sobre o nevoeiro... Esse frio trinca meu coração e derrubado ao chão se estilhaça impiedosamente. Olho para os cacos pela última vez, nessa rua sombria, ainda carrego minha alma arrebentada nos braços... braços cansados... que só se mantêm fortes pela lembrança de que um dia, descansaram nos teus."

Pobreza

Estou farta da pobreza humana e da minha própria pobreza. Mesmo sendo um ser alienígena infiltrado, me escondo entre os meus próprios escombros todos os dias. O sol me obriga á sair e lutar por comida sejam da alma, do corpo ou do coração. Procuro-me perdendo aos poucos. Distribuo-me e me retenho. Desconsidero meus medos mais profundos em busca de alguma luz, nem que seja pra fazer uma mera sombra que me identifique nessa imensidão escura, existência. Busco-me nos subterrâneos alheios, na colheita do visinho, visando o meu abastecer. Essa é minha pobreza á ser dividida com o próximo. Não queria mil, queria um. Não procuro rótulos, quero ver o fundo da garrafa. Se me escondo é por esperar que alguém queira ver o que tem realmente em mim por que o resto, esse há de passar com os anos. Esta parte carnosa da fruta eu divido. Não me importo em esquecer minhas religações, meus contratempos com a saúde, com o próprio tempo se escassando. Não me importo com o passado, nem com o futuro batendo em minha porta daqui á alguns minutos. Quero telefonemas desesperados, buzinaços na rua, gritos na multidão. Quero teu braço ao despertar e teu corpo de café da manhã. Quero abraços infinitos e suspiros no jantar. A espera no portão, flores pra te receber. Não compro imagens, apenas sentimentos hora tão vãos, outrora tão intensos. Me deixa apaixonar! Me deixa mostrar onde eu posso te guiar. Se o lugar for ruim, te deixo partir. Quero abrir os braços e te acolher quando precisar e na mais intensa chuva desfalecer no teu peito como se fosse canção pra me ninar. Um pouco do teu carinho, me dá a tua mão pra eu enlaçar meus dedos. Deixa eu te seguir, olhar teu rosto na luz do dia amanhecendo? Apertar-te contra o meu corpo sem preguiça de te amar. Deixa-me te provar que quando fecha os olhos ainda estou contigo. Se eu pudesse te manter nos meus anseios, nas minhas músicas e nos meus braços, não haveria mais dúvidas e lamentações. As noites seriam quentes e os dias seriam luminosos. Toda chuva seria refrescante e as nuvens seriam como camas para os anjos. Não haveria mais pobreza na minha alma, ela estaria repleta do amor que iria florescer do teu carinho, do apego, da felicidade premiada pelos teus sorrisos. Quando o amor não for uma refeição, mas uma grande ceia então terá a audácia de comer sem culpa, sem medo. Falta-me tua contemplação. Não há riqueza no pouco, porque pouco nunca será o que se precisa, só sobra que não hão de alimentar ninguém. Dá-me tudo de ti, e eu guardarei em urna de ouro. Completa-me a alma que Platão já dissera dividida! Não terá arrependimento. E eu não cansarei da riqueza, dividiria ela com o mundo.

Estrada

Vou andar por caminhos insones, aparentemente vagos. Cheia da minha alma, me procuro em multidões vazias. Não, não estou sozinha, apenas solitária. Parto para uma jornada sem rumo certo, sem escolher a estrada. Por muitos anos vaguei pelas estradas de outrem, por caminhos infundados, por vastos campos não semeados. Quero a alegria das flores. Acredito que todos possam sentir seus perfumes, por isso, vou contra o vento sem escolher os caminhos. Quero que eles me escolham agora. Da alma a incerteza, do coração o inesperado, do mundo que nunca senti meu, dos pés que agora descalços vagam pela própria sorte. Se esta é a direção certa, não sei. De que saberia um ser sem pátria?Sem porto, sem partida? Onde se esconderam a felicidade e o destino? Agora a busca será mais lenta; pois; sem rumo se tornou estada, não estrada.

Apenas um lugar...

Se existe um lugar entre a razão e a consciência, procuro-o desesperadamente nas minhas noites em claro. As muitas escolhas que me traz a vida, as promessas não cumpridas de outrem, os arrependimentos, os lamentos da alma. Perpetuam as duvidas sobre a confiança e o respeito ao ser próximo, aquele que nos afaga e nos bate em seqüência, que se mantêm inerte e inquieta o pensamento, e todas as outras duvidam filosóficas inerentes as paixões. Por que nos corta como faca o semblante, porque nos fere a alma dessa forma pouco sutil e desesperada?Não á nenhuma razão que nos leva a dor consciente e física.Talvez seja apenas o ego,esse,quando ferido nos gera protestos emocionais sem cabimento.Entenda-se,compreenda-se,aprenda-se. Nada pior que a ignorância íntima, que o apego ao exterior e o desapego a imensidão do coração. Que caibam mundos e universos nesse espaço sagrado. Que não se cale a dúvida, que não se percam os momentos, mesmo que sombrios, do sentimento humano. E esse mundo mágico criado por nós mesmos, sem tempo, sem ruas, sem portas; desaba sobre nossa vida cotidiana quando o coração está enfermo. Esse, que é mais lívido que a água, mais leve que uma pluma e mais pesado que uma grande montanha cria teorias, constrói de massa petrificada nosso pão, nosso teto. Que se dê asas ao coração. Que se jogue de cabeça aos amores, sejam eles fúteis, afáveis, plácidos ou explosivos, eternos ou folgasses, sólidos ou sonhadores. Não importa a procedência, a credibilidade, a viabilidade. Coragem no destino, força na luta, esperança. Sentimentos e sensações mantenham-se vivos, por favor.

A vida

O que mais belo na vida que andar de pés descalços na chuva? Do que manter as mãos inquietas enquanto se aproxima o ser amado? A leveza do vôo de uma ave branca pairando sobre o mar ao alvorecer? Quando esquecemo-nos de entregar os olhos da imaginação ás mãos de Deus nos dias simples, nas madrugadas complexas, somos apenas carne e ossos sonhando com uma alma. Não há uma motivação sem o credo, sem a esperança. Que se rasgue o peito de amores; sejam eles sutis, fervorosos, calados, impacientes. Que se faça o sol no raiar de um novo dia a fonte inspiradora de toda graça e música aos ouvidos dos anjos que perpetuam em nossa morada. Nos motivos do mundo não restam paz ou conforto, então façamos o seguinte: Pedimos e concretizamos sobre o suor de nossos rostos cansados e sonhamos e deleitamo-nos quando pudermos fechamos nossos olhos sob nossos travesseiros. Sejamos mais brandos com nossos próprios desafios enquanto estamos no correr da luta. A paz é um objeto em uma prateleira de ouro. Podemos admirá-la, mas para tocá-la temos que transpassar o vidro frio em nossos pensamentos, tocando-a em nossa imaginação, construindo momentos atemporais no fio que nos une, céu e terra,corpo e alma. Da indagação do ser supremo veio a luz ao homem e se fez a criação deste sonho estranho e enigmático que nos rodeia. Como pode ao ser perguntar por que existe se simplesmente existe. A beleza do simples é a mais admirável poesia, não uma perturbação. Só o homem com seus olhos incrédulos e sua busca profunda pode se atrever a deslumbrá-la em fantasia. Então que seja eterna, forte, vibrante, intensa. Nos seus mais distantes caminhos existem sempre as explicações de um mapa divino e individual. Que não se canse a busca, nem os olhos á beleza, nem o corpo á batalha. Que não se esconda a tristeza, nem o deleite da felicidade ao ser irmão e ao olhar divino. Deus nos propôs a divisão de sentimentos. A vida nada mais é que uma diversão dentre a eternidade, um sonho bom que Deus nos propôs e que, acordados ou não, ele nos unge diariamente com seu equilíbrio e sensatez, mesmo nos momentos mais inconcebíveis. Viemos á este mundo para ver o inesperado, o inacreditável, a realização do inconcebível. Aproveite a estada, e tenha um bom dia. Lena Hoffmann
Outrora calma trazia. Agora o som me agonia. Não me permito confiança, Nem amor à palavra vazia. Erguendo entre escombros, Peças retrógradas aos ombros, Espessos blocos de saudade. Trás épocas, sentimentos, idades, Encontro calada a imagem, Cansada no espelho espera, Das chuvas de primavera, Na janela eu vejo a passagem. E as gotas presas choram, Como sentimentos que não passam, Mas com o peso do tempo se abraçam, Se desfaçam, no meu peito não moram... Espero pelo espelho que conta o novo. Pelos ombros livres,vazios em movimento. Pela palavra que acompanha o sentimento. Mas por agora não choro, chovo.